Reeditar a história. Em 1998 ao atravessar o espaço aéreo nacional, na zona do Bié, o avião do então presidente do Botswana, Seretshe Khama, foi alvejado por um míssil das baterias antiaéreas operadas pelos cubanos, aliados das forças governamentais. Felizmente o destino não quis a sua morte. Mas ao ser recolhido, nem com Pascoal Luvualu o homem quis, na altura falar, quando estava a ser transportado num IFA para cuidados numa unidade militar. Angola desdobrou-se em desculpas e teve inclusive de pagar um novo avião.
Por William Tonet
Hoje, 13.02 a história repete-se com o seu filho, também, ex-presidente do Botswana, Ian Khama, mas “alvejado” em terra, quando deveria atravessar a fronteira de Angola onde deveria participar numa Conferência Internacional, organizada pela alemã Benthrust Foundation, foi selvaticamente impedido de entrar, enquadrado na comitiva de Venâncio Mondlane e o seu adjunto Dinis Tivane.
Para não ser óbvio de ser só Venâncio Mondlane, então incluíram outros políticos e organizações, tais como o ex-presidente da Colômbia, Andrés Pastrana.
Ao ex-presidente da Colômbia a humilhação da liderança da União Africana foi pior ao deixaram o homem andar 44 km até ao novo aeroporto internacional e lá chegado não enviaram o seu passaporte, pelo que não conseguia embarcar para Benguela.
Depois de horas à espera de informações que justificassem a retenção daquelas figuras, muitas das quais com passaporte da SADC, caso de Venâncio Mondlane, o silêncio continuou a ser a tónica de uma música mal tocada pelo Serviço de Migração, que sequer se deu ao trabalho de explicar a razão do seu obscuro modus operandi.
O político mais popular de Moçambique e de África, Venâncio Mondlane, o seu adjunto Dinis Tivane, os ex-Presidentes do Botswana, Ian Khama, e da Colômbia, Andrés Pastrana, bem como outros cerca de 50 membros de vários países africanos, foram selvaticamente tratados sem nenhuma justificação das autoridades aeroportuárias.
Indiferente ao descalabro do que se passava no seu reino e à vergonha que estava a ser estampada na comunicação social internacional, o Presidente do MPLA que por inerência é também Presidente da República de Angola, general João Lourenço, deslocava-se ao Memorial da Vitória de Adwa, um monumento erguido em Adis Abeba para imortalizar a decisiva batalha, ocorrida há mais de 100 anos, em que as forças etíopes infringiram uma pesada derrota militar aos invasores italianos.
No local, o Chefe de Estado e Presidente em exercício da União Africana depositou uma coroa de flores e ouviu explicações do historiador-cicerone, ao mesmo tempo em que percorria o amplo recinto a céu aberto preenchido de alegorias e referências ao feito histórico, como estátuas de heróis, armas e outros apetrechos…
Em Adis Abeba, na primeira reunião de trabalho com a sua equipa, os quadros seniores que integram a Comissão da UA e em que participaram também o Presidente e a Vice-Presidente da Comissão da União Africana, Mahmoud Ali Youssouf e Selma Malika Haddadi, respectivamente, mais os quatro comissários que hoje mesmo passaram a ocupar, formalmente, os seus cargos, o general João Lourenço mantinha-se impávido e sereno perante as notícias que lhe chegavam de Luanda, retratando a vergonha actuação dos seus assalariados que impediam a entrada de convidados internacionais, mostrando que Angola (ainda) não é um Estado de Direito.
“É fundamentalmente para nos conhecermos”, disse o Presidente general João Lourenço durante o encontro, ocasião em que reafirmou as prioridades do seu mandato à frente da mais importante organização político-diplomática do continente africano: paz e segurança, para que seja possível concentrar os esforços no progresso e desenvolvimento dos países africanos e suas populações; e construção de infra-estruturas, condição sine qua non para a prosperidade do continente.
A propósito de infra-estruturas para África, foi anunciado na primeira reunião do Presidente da UA com o seu staff que Angola se propõe acolher na primeira quinzena de Outubro deste ano uma conferência de iniciativa da União Africana dedicada ao tema.
Será que, nessa altura, os convidados da Presidência da União Africana irão passar pelo mesmo vexame pelo qual passaram hoje os convidados da Benthrust Foundation?